sexta-feira, 30 de março de 2012

Roger Waters leva 'The Wall' para 50 mil no Engenhão



por Livio Vilela para o Multishow


Enquanto dezenas de milhões de brasileiros se posicionavam confortavelmente em seus sofás para mais uma final do “Big Brother Brasil” uma projeção num muro na Zona Norte do Rio de Janeiro lembrava outras dezenas de milhares que talvez haja outro Big Brother com que se preocupar. Marcado pelo tom político – com dedicatória a “Todas as vítimas do terrorismo de Estado” – o ex-Pink Floyd Roger Waters encantou uma multidão de crianças, jovens, adultos e idosos no Estádio do Engenhão na última quinta-feira.

Em sua terceira passagem pela cidade, Waters trouxe o que é possivelmente sua maior obra, “The Wall”, disco lançado em 1979 pela banda que comandava ao lado de David Gilmour. Descrever “The Wall” como apenas um disco ou um filme ou um show parece até incorreto, dado o escopo de conceitos que Roger tenta comunicar.

No palco, mais de 30 anos depois, o ex-Floyd parece finalmente encenar “The Wall” da maneira que tinha imaginado em 1978, com todos elementos cenográficos e audiovisuais que deram cara e corpo às 28 músicas da turnê original do álbum, agora ampliados pelas projeções de em alta definição que conduzem o espetáculo. 

O muro de tijolos brancos é o centro das atenções por motivos óbvios. É nele em que toda ação se desenvolve, acompanhando sua construção (de “In The Flesh?” a “Goodbye Cruel World”, que fecha o primeiro ato) e destruição apoteótica em “Outside The Wall”. Nele, são projetadas animações anti-capitalistas, imagens de vítimas da guerra e, num dos momentos mais emocionantes da noite, a balada“Mother”, o próprio Roger Waters aos 35 anos fazendo um dueto com o cabelos brancos de 2012. 

Mesmo que não dê para dizer que a música seja o único foco da apresentação, a banda formada por Roger para esse giro não decepciona. O segredo parece ser permanecer fiel às colaborações de David Gilmour, Richard Wright e Nick Manson no álbum original e deixar que Roger Waters assuma o controle quase ditatorial do espetáculo. O sistema de som é outro destaque e mesmo em momentos em que o público ia à catarse como nas várias partes de “Another Brick In The Wall” (a parte 2 teve coro de crianças da Favela da Rocinha), “Hey You” e “Comfortably Numb”.

Em vários momentos, Roger Waters parecia tão extasiado quanto a plateia, sorrindo confiante de que que tinha feito tudo para que sua mensagem finalmente fosse compreendida. No entanto,  “The Wall” talvez seja a maior contradição da histórica do rock – uma obra forjada pelo base socialista de Waters que se transformou num dos maiores acontecimentos capitalistas da história da música. Uma impressão que o muro que dividia quem pagou muito (pista) de quem pagou muito mais (pista prime) não conseguia desfazer.

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Sou bancário (e isso é muito ruim, acreditem), guitarrista e vocalista da banda Raiobitz (Rio Claro-SP), colaborador do Whiplash.net e pai em horário integral. Curto rock e todas as suas vertentes desde que me entendo por gente e quero compartilhar dessa paixão.