quarta-feira, 16 de maio de 2012

Ex-integrantes dizem que especial com Wagner Moura marca adeus às músicas da Legião Urbana




Dado Villa-Lobos, Wagner Moura e Marcelo Bonfá fazem show em homenagem à Legião Urbana em São Paulo
Foto: Leonardo Aversa / Agência O Globo 


RIO - No estúdio onde ensaia com Marcelo Bonfá e Wagner Moura, Dado Villa-Lobos diz que os shows que farão juntos, nos próximos dias 29 e 30, em São Paulo (para a série "MTV ao vivo"), cantando o repertório da Legião Urbana, serão únicos — não haverá uma turnê. Em seguida, faz uma pausa e continua.

— São 30 anos de banda, 30 anos desde que Bonfá e Renato (Russo) ensaiaram pela primeira vez numa superquadra de Brasília. Esse show representa uma virada de página. Queremos trazer essa lembrança, esse respeito ao repertório, ao nosso público, para encerrar um ciclo. O que quero dizer é que de repente isso é definitivo, que não voltaremos mais a essas canções — diz o guitarrista, com palavras escolhidas e lentas, como se tivesse dificuldade para falar aquilo.

Tributo começou em 2009

Os shows no Espaço das Américas, portanto, marcam o fim de uma série de reuniões iniciada em 2009, quando Dado e Bonfá (integrantes remanescentes da Legião Urbana após a morte do letrista e cantor Renato Russo, em 1996) tocaram "Índios" num show do Bajofondo Tango Club no Rio. Fizeram então shows com vocalistas convidados — como no Rock in Rio do ano passado, quando tocaram com a Orquestra Sinfônica Brasileira (a apresentação, aliás, foi gravada e será lançada comercialmente). Foi naquele dia que nasceu a semente da apresentação que eles fazem agora.
— André Waisman, que foi presidente da MTV durante anos, assistiu à Legião com a orquestra... — lembra Dado.

— E depois foi ao cinema e viu "Vips" (em que Wagner canta Legião, assim como em "O homem do futuro") — emenda Bonfá.

Por que não aproximar os artistas do Rock in Rio e o de "Vips"? A ideia de Waisman, à primeira vista inusitada, de juntar o ator (que também é cantor da banda Sua Mãe) com Dado e Bonfá foi bem recebida pela dupla. Eles entraram em contato com Wagner, que estava no Festival de Berlim, e a resposta veio com empolgação.

— Fiquei doido, claro. Topei na hora, a possibilidade de subir no palco com esses dois é a glória.
O entusiasmo de Wagner, diz Bonfá, foi determinante para que o projeto tivesse continuidade:
— A ideia era ser uma banda, quando um não quer, não rola. E quando ele respondeu, vimos que estávamos falando a mesma língua.

Depois de trocarem sugestões de repertório — que incluirá músicas de todos os discos, até mesmo canções que a Legião nunca tocou no palco, como as dos álbuns "A tempestade" e "Uma outra estação" —, Wagner sugeriu que eles convidassem o diretor teatral Felipe Hirsch para pensar o espetáculo.

— Eles me apresentaram um primeiro set list e pedi para incluir umas cinco músicas — conta Hirsch. — Sempre fui um admirador da Legião, desde o primeiro compacto, lá em 85, até o final. Visualmente, também, pensei em algo direto, que me lembre da emoção de ver um ambiente, uma instalação da Mona Hatoum ou do Bruce Nauman vinda lá da década de 1980. Mais ideia e menos correr atrás, ano após ano, de novidades tecnológicas. Penso sempre nos climas que as músicas sugerem, "Baader-Meinhof Blues", por exemplo, é tão forte como essas recentes imagens de riots como as da Grécia. Violência e resistência em busca de justiça. As músicas também sugerem suas cores. A experiência pode ser sensível, delicada mesmo num show com influências de Gang of Four, Pil, sei lá. Eles eram tão sofisticados...

Além de Hirsch, a banda terá reforços de novos músicos, como Rodrigo Favaro (baixista da OSB que eles conheceram no Rock In Rio), Gabriel Carvalho (guitarrista da Sua Mãe) e o cidadão instigado Fernando Catatau (que participará de duas músicas). A banda passará por canções como "Teorema", "Sereníssima", "Tempo perdido", "Daniel na cova dos leões", "Eu sei" e "Há tempos".

— Eram canções que levantavam a autoestima da minha geração, naquele país controlado por velhinhos — diz Wagner. — E eram profundamente pessoais também. "Andrea Doria", com versos como "Não queria te ver assim/ Quero tua força como era antes"... Porque sempre que você se apaixona na juventude é muito intenso. E a Legião não tinha medo da emoção. Todas essas canções são meio como um rito de passagem.

Sucessos e lados B

Dado percebe esse envolvimento de Wagner — representando toda uma geração, enfim — durante os ensaios:

— Quando ele canta "1965 — Duas tribos", percebo que há algo acontecendo ali, principalmente quando chega no verso "Eu quero tudo pra cima".

O show será gravado para lançamento em DVD e também transmitido pela MTV. Mas ainda há uma indefinição nesse sentido.

— Ainda está rolando um processo de negociação com os herdeiros, mas não sei em que pé está — diz Dado (foi noticiado no início do mês que a família de Renato Russo não teria permitido o uso do nome Legião Urbana associado ao espetáculo).

Por meio de uma nota, os herdeiros de Renato Russo informaram que "ainda estão em fase de negociação com a produção do show as cláusulas do contrato a serem estabelecidas para total garantia de zelo à imagem de Renato Russo e que não há nenhuma medida judicial, até o momento".A preocupação do trio, porém, é ensaiar. Para emocionar a plateia e mesmo surpreendê-la.

— Vamos tocar muitos hits, mas também alguns lados B — adianta Wagner.


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Sou bancário (e isso é muito ruim, acreditem), guitarrista e vocalista da banda Raiobitz (Rio Claro-SP), colaborador do Whiplash.net e pai em horário integral. Curto rock e todas as suas vertentes desde que me entendo por gente e quero compartilhar dessa paixão.